O fim de um ano e o início de outro nos coloca diante dos inevitáveis balanços e planejamentos. É tempo de refletirmos sobre o que vivemos e nos prepararmos para o que vem pela frente. Nesse contexto, então, veio a minha mente uma expressiva história bíblica que encontramos no livro de II Crônicas (lê-se Segundo Livro de Crônicas), cap. 20.
A história revela uma vitória do povo de Deus numa batalha sem que qualquer pessoa tenha lutado. Isso mesmo! Uma vitória sem luta ou quase isso, como vamos explicar. A história em questão tem muitas lições importantes e uma das principais delas é a subversão por Deus da lógica dos homens. Ouvimos centenas ou milhares de vezes que não há vitória sem luta. Nessa história sobre a qual nós vamos refletir a Bíblia mostra uma vitória numa batalha sem a luta física dos vencedores. Jesus também disse, entre as muitas subversões da lógica do homem natural, que o último será o primeiro e que aquele que quiser ser o mais importante deve servir ao invés de ser servido – Mateus 20-16 e 23:11.
Vamos à história e às suas lições.
O povo de Israel, como sabemos, nunca teve paz. Esteve sempre cercado por povos que desejaram a sua destruição, como ainda hoje é o caso. O Irã, por exemplo, pretende o completo aniquilamento de Israel. Semelhantemente, Jesus diz ao seu Israel espiritual: “no mundo tereis aflições...”. João 16:33.
Na história contada no II Crônicas 20, vários povos se juntaram contra Israel, cuja monarquia de então tinha como rei Josafá. O “serviço secreto” de Josafá trouxe a ele a notícia do ajuntamento de diversas nações contra o povo escolhido por Deus. O número de soldados dos inimigos era incontestavelmente maior que o número de soldados de Israel – cap. 20, v. 1-2. A derrota e a destruição eram iminentes. O que acontece, então, a Josafá? Ele teve medo – v.3
A primeira lição: o medo pode ser um sentimento perfeitamente justificável e que deve demandar uma reação proporcional ao nosso temor. Estamos diante de tantos desafios o tempo todo que é natural que em algum momento tenhamos medo. Não podemos, no entanto, nos deixar paralisar pelo medo, mas reagir na proporção necessária e com as “armas possíveis”.
E qual foi a reação de Josafá? Do ponto de vista humano não haveria chances! Os exércitos ajuntados eram muito superiores. A luta no campo físico não seria bastante para a vitória. Josafá buscou ao SENHOR. Foi reclamar uma intervenção divina e conclamou todo o povo a fazer o mesmo – v. 3-4. Jesus nos ensinou quanto à necessidade de que fóssemos vigilantes e nos mantivéssemos em oração.
A segunda lição: há lutas para as quais os nossos recursos físicos, financeiros etc. não são suficientes. É preciso que sejamos humildes para reconhecer isso. Para essas lutas precisamos buscar ao SENHOR! Inúmeras são as expressões bíblicas do abandono das forças físicas e dos recursos em nome da fé. Lemos, por exemplo, “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus” – Salmo 20, v.7.
A terceira lição: a busca ao Senhor revela que há lutas que precisam ser travadas no campo espiritual. Não podemos ignorar que há um “mundo espiritual” ao lado do mundo físico. No mundo espiritual de nada vale a luta física. No mundo espiritual só tem efeito a luta espiritual. Jesus revelou a Pedro, o forte, a pedra, que Satanás vivia tramando para tragá-lo e que Pedro tinha sido preservado pela intervenção espiritual do próprio Jesus - Lucas, cap. 22, v 31-32. A força física de Pedro não valia de nada nessa luta, o que foi revelado mais tarde quando ele negou que conhecesse Jesus, não obstante essa pergunta tivesse sido feita a ele por pessoas humildes e sem poder terreno – Mateus, cap. 26, v. 69-74. Paulo, mais tarde, pelo Espírito Santo, revelou ao escrever aos efésios, cap. 6, v. 12: “pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo das trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes”.
A quarta lição: precisamos trazer à memória aquilo que é capaz de nos dar esperança, conforme o que está escrito em Lamentações de Jeremias 3:21. Josafá fez uma oração na qual invocou perante o Senhor os feitos dEle a favor de Israel e, principalmente, as promessas do Senhor para o seu povo – II Crônicas, cap. 20, v. 5-12. Em todos os momentos, mas, sobretudo, quando temos grandes desafios, quando a luta é maior do que as nossas forças e recursos, devemos lembrar, trazer à memória, as incontáveis promessas do Senhor para o seu povo. Reconhecer perante Ele que não temos força, que creditamos a Ele o poder para a vitória! Deus é fiel! Ele cumpre todas as suas promessas. A sua fidelidade, ademais, independe de nossa própria fidelidade. A paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo é a garantia da atualidade da promessa de Deus.
A quinta lição: Deus não deixa o seu povo sem resposta! Os versos 14-17 do Cap. 20 de II Crônicas nos revela a resposta de Deus. Sim, Deus fala conosco! Na história, o Espírito Santo veio sobre um dos filhos de Deus para revelar o que o Senhor faria ao seu povo.
Vocês não terão de lutar, disse o Senhor. Essa luta não é de vocês, mas minha! Vocês irão para o lugar da peleja para que assistam a minha vitória sobre os meus inimigos. Vocês verão o livramento que darei a vocês.
Diante de nossos desafios, lutas, quando as nossas forças não forem suficientes e recorrermos ao Todo Poderoso, Ele nos dará resposta. Falará ao nosso coração e isso pode acontecer de diversas formas. Jesus disse que estaria conosco todos os dias. Prometeu que enviaria o Consolador, o qual, de fato, desceu sobre a congregação de fíes no pentencostes a atua até hoje sobre e na igreja de Cristo.
A sexta lição: há lutas que não são nossas. Embora estejamos no meio delas, embora exércitos se levantem contra nós, a luta, na verdade, é contra o que somos, contra a nossa condição de povo e de filhos de Deus. Sim! Deus tem um inimigo e esse inimigo atenta contra os filhos de Deus, já que não pode lutar diretamente contra o próprio Deus. O inimigo de Deus é, então, o nosso inimigo. É nessas lutas, então, que Deus toma o nosso lugar. A luta, afinal, não é nossa, mas de nosso Deus! O evangelho de João diz que todos os que receberam a Jesus foram feitos filhos de Deus. Jesus, por outro lado, diante da perseguição de Saulo à igreja, disse a Saulo, no caminho de Damasco: Saulo, Saulo, porque me persegues – Atos cap. 8:9 e cap. 9:4.
A sétima lição: a necessidade de que acreditemos nas promessas do Senhor! Josafá e o povo creram na revelação. Foram até o local da batalha. O mais importante nesse ponto de nossa história é vermos como Josafá e o povo foram para a guerra. À frente do exército, ao invés da infantaria, ele colocou os cantores. Isso mesmo! Os cantores de Israel, uma tribo inteira, a tribo de Levi, saiu à frente do exército com as suas roupas de cânticos, algo semelhante às batas que os corais utilizam hoje – cap. 20, v. 20-21. Existe algo mais incrível nessa história toda? Como uma nação vai para uma batalha e ao invés das estratégias de luta naturais, coloca à frente os seus músicos e cantores?
A oitava lição: para as batalhas, devemos ir entoando os cânticos de adoração ao nosso Deus. Certamente nada incomoda mais o nosso adversário espiritual do que os cânticos com os quais ressaltamos o nosso louvor e adoração ao Deus verdadeiro e proclamos o seu poder e a sua majestade. Os filhos de Deus dizem: a bondade do Senhor dura para sempre. Ela não tem fim! Os cânticos parecem ter confundido os adversários de Deus. O resultado: os exércitos que vieram contra os filhos de Deus guerrearam entre si. Não ficou um único soldado a ser eliminado pelo povo de Israel. Ademais, todas as riquezas que eles haviam acumulado nas batalhas anteriores ficaram para os filhos de Israel - v. 22-28. No livro de Atos dos Apóstolos temos um relato semelhante – cap. 16:26. Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus quando um terremoto se seguiu da quebra de suas algemas e os colocou em liberdade. É fato, o louvor liberta e ganha batalhas!
Então, é possível ganhar uma batalha ou guerra sem lutar? Qual a resposta?
Concluo citando C. S Lewis: “Mire o céu e você vai ter a terra como lucro. Mire a terra e você não vai ter nem uma coisa nem outra”.